“Mitos
são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana.”
Joseph CampbelL
Frank McConnell,
autor de Storytelling and Mythmaking
e professor de Inglês da Universidade da Califórnia, afirmou que o cinema é
outra arte "de fabricação de mitos", afirmando: "O cinema e a
literatura são tão importantes porque são versões da fábrica de mitos." Ele
também acredita que o cinema é um veículo perfeito para a criação de mitos.
"O cinema (...) se esforça para o cumprimento de sua própria realidade
projetada em um mundo idealmente associativo e pessoal". Em uma ampla
análise, McConnell associa os filmes de faroeste americanos e filmes de romance
à mitologia arturiana, filmes de aventura e de ação às mitologias do
"mundo épico" de sociedades de culturas fundadoras, e a muitos filmes
de romance onde o herói está alegoricamente fazendo o papel de um cavaleiro em
sua jornada de busca, como Sir Gawain (ou Dom Galvão em algumas versões em
português) e a Demanda do Santo Graal, mas em seu próprio cenário mitológico.
O
cineasta George Lucas fala do enredo cinematográfico de Star Wars como um
exemplo de fabricação de mitos modernos. Em 1999, ele disse a Bill Moyers:
"Com Star Wars eu conscientemente me propus a recriar mitos e os motivos
mitológicos clássicos." A idéia de que Star Wars é "mitológica"
tem encontrado críticas de diversos tipos. Por um lado, Frank McConnell diz que
"passou, mais rapidamente do que qualquer um poderia ter imaginado, do status
de filme até o de mitologia popular legítima e profundamente enraizada".
John Lyden, professor e presidente do Departamento de Religião no Dana College,
argumenta que Star Wars realmente reproduz temas religiosos e míticos;
Especificamente, ele argumenta que a obra é apocalíptica em conceito e escopo.
Steven D. Greydanus do The Decent Film Guide concorda, chamando Star Wars de
"Obra de Mitopéia Épica". Na verdade, Greydanus argumenta que Star
Wars é o exemplo principal da mitopéia americana:
"A
Força, Os Cavaleiros Jedi, Darth Vader, Obi-Wan, Princesa Leia, Yoda, sabres de
luz e a Estrela da Morte mantêm um lugar na imaginação coletiva de inúmeros
americanos que só podem ser descritos como míticos. Em minha resenha de Uma Nova Esperança chamei Star Wars de
'a mitologia americana por excelência,' uma abordagem americana sobre Rei Arthur, Tolkien, e os épicos de samurai e artes marciais do Oriente ...”
Roger
Ebert observou a respeito de Star Wars: "Não é por acaso que George Lucas
trabalhou com Joseph Campbell, um especialista em mitos básicos do mundo todo,
na criação de um roteiro que deve muito às histórias mais antigas do
homem". Os aspectos "míticos" da franquia de Star Wars foram
desafiados por outros críticos de cinema. Em relação às alegações do próprio
Lucas, Steven Hart observa que Lucas não mencionou Joseph Campbell no
lançamento do Guerra das Estrelas original; Evidentemente só se conheceram na
década de 1980. Sua admiração mútua "fez maravilhas para a visibilidade de
Campbell" e cobriu os rastros da inspiração de Lucas no "gênero
desprezado" da ficção científica. “Os épicos compõem um grupo de
influências bem mais classudo!”.
Em The
Mythos of the Superheroes and the Mythos of the Saints, Thomas Roberts
observa que:
"Para
o estudante do mito, o mythos dos super-heróis de quadrinhos é de interesse
único."
"Por
que os seres humanos querem mitos e como eles os fazem?" Algumas das
respostas a essas perguntas podem ser encontradas a apenas sessenta anos atrás.
De onde o Superman e os outros super-heróis vieram? Na sua Encyclopedia of the
Superheroes (Enciclopédia dos Super-Heróis), Jeff Rovin observa corretamente:
"Nos dias primevos, nós os chamávamos de ‘deuses’”.
O
Superman, por exemplo, enviado dos "céus" por seu pai para salvar a
humanidade, é um tipo de caráter messiânico na tradição bíblica. Além disso,
junto com o resto da Liga da Justiça da DC Comics, o Superman vigia a humanidade
da Torre de Vigilância nos céus; Assim como os deuses gregos fazem a partir do
Monte Olimpo.
A série Novos Deuses de Jack Kirby (Jack Kirby's
Fourth World, no original) com a luta cósmica entre os deuses do planeta Apokolips
de Darkseid e os do planeta Nova Gênese e as figuras messiânicas do Senhor
Milagre e Órion é outro bom exemplo. A série Sandman de Neil Gaiman criou uma mitologia em torno dos Perpétuos,
uma família de seres antropomórficos que representam forças naturais como a morte
e o sonho.
Os jogos
de RPG freqüentemente incluem mitologias inventadas para que seus jogadores
interajam. Exemplos incluem o cenário Forgotten
Realms de Dungeons & Dragons,
os mundos de White Wolf's Exalted e World of Darkness, e os cenários de Warhammer
e Warhammer 40.000 da Games Workshop. Seus equivalentes virtuais, às vezes
elaboram universos fictícios que continuam a ser explorados em muitas
seqüências, como a famosa série The Elder Scrolls e a longa franquia de RPGs
japoneses Final Fantasy, onde cada jogo tem um mundo e cenário únicos, ainda
que a série como um todo mantenha-se coesa pelo tipo de seres e conceitos que
apresenta.
No reboot
da série de tv Battlestar Galactica,
uma mitologia inventada é um importante fundamento da trama. A grande maioria
dos humanos, ou Coloniais, são politeístas e acreditam nos deuses de Kobol,
cujos nomes e atributos são muito semelhantes aos dos deuses clássicos da
Grécia e de Roma, como Zeus, Athena, Apollo, Ares ou Hera. Um dos livros
religiosos do canon colonial foi escrito por ou nomeado em homengem ao profeta
Pítia. O Livro de Pítia conta a história da queda do planeta Kobol (onde,
segundo a lenda, a Humanidade surgira pela primeira vez), o êxodo das Doze
Tribos para seus novos planetas (as Colônias) e a jornada de uma Décima Terceira
Tribo para um planeta chamado Terra. Os Cylons, uma raça robótica, acreditam em
um único deus e é sugerido que as origens de sua religião podem estar no Templo
de Cinco, um lugar sagrado que aparece na profecia de Pítia e foi encontrado
pelas frotas de Coloniais e Cylons .
E há muitas outras Mitopéias por aí. Você às
assiste, você às lê, se emociona com elas e se preocupa com os próximos passos
de seus personagens principais. E de vez em quando você pode ouvir alguém dizer
“Para que se preocupar com isso? Nem é de verdade!” O psicanalista Otto Rank
escreveu “Se o drama de Édipo nos comove, é por que aquele drama poderia ser o
nosso”. É por que seja lá qual for o cenário em que o drama aconteça os
personagens serão humanos e, se bem escritos e apresentados, nos colocaremos na
pele deles e num ato catártico, sentiremos os sentimentos deles, mas de uma distância
suficientemente segura!
Joseph Campbell explicou
esse vínculo que criamos com as Mitopéias quando declarou: “Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso
que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar
vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico,
tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos,
de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. É disso que se trata,
afinal, e é o que essas pistas nos ajudam a procurar, dentro de nós mesmos”.
Fim da
Parte 3
Esta série de três artigos “O que é Mitopéia” foi apenas uma
apresentação conceitual, elaborada a partir de artigos prontos disponíveis na
Internet, para te ajudar a entender a potencialidade de aprofundamento e
relevância de reflexão do assunto. Nos próximos textos, comentaremos Mitopéias
específicas e aspectos particulares delas. Esperamos que vocês gostem,
participem com seus comentários, compartilhem com seus amigos que gostam do
assunto e principalmente com quem diz que é tudo bobagem simplesmente por que
nunca cruzou com um orc no caminho para a padaria!
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