sábado, 3 de dezembro de 2016

SUPERMAN - ANÁLISE DE UM MITO AMERICANO PARTE 7 A FORÇA DE UM SÍMBOLO



“[O Superman] personifica o melhor que existe em nós. 
[É]alguém que as pessoas raramente vêem além do símbolo que existe em seu peito.” 
(Jim Lee, desenhista do Superman)
Quando Clark e Jonathan Kent criaram o Símbolo do S, na origem de John Byrne

       Onde você estava quando o muro de Berlim foi derrubado? Onde você estava quando Collor renunciou? Onde você estava quando as torres gêmeas caíram?

         Esse é um tipo de pergunta que as pessoas sempre fazem umas às outras, porque esses são os tipos de fato que marcaram a vida das pessoas e a história do mundo. Que tipo de pergunta, então, personagens da mitologia moderna fariam uns aos outros com respeito a fatos semelhantes que afetariam suas vidas e história. Eu arriscaria dizer “Onde você estava no dia em que o Super- Homem morreu?" Impossível saber quais seriam as respostas de cada um deles, mas, particularmente, me lembro de onde eu estava quando isso aconteceu.

         Eu devia ter uns dez anos de idade. Estava sentado, brincando na sala, porque já era tarde e meu pai não tinha me deixado brincar lá fora. Ele estava assistindo ao telejornal (da rede Record, se não me engano) quando deu a manchete da morte do Super-Homem. Era como se aquele personagem, que eu conhecia dos desenhos-animados dos Superamigos, fosse real. Não era todo dia que anunciavam a morte de alguém que nem sequer existia. Meses depois, uma experiência semelhante, envolvendo uma tragédia com o Batman, faria de mim um leitor fiel de histórias em quadrinhos de super-heróis.

            Por várias vezes, nos anos que se seguiram, a pergunta voltou à minha mente: “Por que anunciaram num telejornal de uma grande emissora, e com destaque, a morte de alguém que nem existia de verdade?”.


Um dia que marcou minha infância: O dia em que o Super-Homem morreu. 

          Agora, a pergunta está respondida: Porque ele é um símbolo, um mito, e os mitos, com efeito, existem. Eles fazem parte da vida inconsciente das pessoas que, de fato, ocupa uma parte bem maior do que o consciente na mente humana. Os mitos são necessários em nossas vidas para que possamos nos relacionar melhor com o nosso inconsciente. Anunciaram a morte do Superman na televisão, porque, ao vê-lo morto, seus leitores viam parte de si mesmos, parte de seu inconsciente morrer com ele. A respeito dos símbolos, Jung escreveu:

       “O símbolo não é um signo que oculta uma coisa conhecida de todos. Não é este o seu significado. Pelo contrário, representa uma tentativa de elucidar, através da analogia, algo que ainda pertence inteiramente ao domínio do desconhecido, ou de uma coisa que ainda virá a ser”. (JUNG, apud, HALL & NORDBY, 1972, p.103).

         Pudemos decifrar um pouco desse símbolo e perceber que o Superman “é mítico, é uma metáfora para vários elementos e crenças diferentes de nossa sociedade”, afinal de contas, nós assimilamos muito da cultura americana devido à globalização.

         O “S”do Superman é reconhecido em qualquer lugar do mundo, porque representa, na atualidade, elementos do inconsciente coletivo que, em outras épocas e situações, foram  e são representados por outros símbolos como o Santo Graal, o Crucifixo ou a Mandala. É aceito pela maioria dos povos, porque seu mito representa anseios e conflitos dos cidadãos das sociedades influenciadas pela cultura ocidental predominante. Ele persiste, porque é o mesmo mito básico que se adapta com o passar dos anos. Aliás, representa basicamente os mesmos arquétipos que os mitos antigos representam.


A Mandala Budista
O Santo Graal
O Crucifixo
A Cruz Ansata

               
               
            
             Não é possível matar o Super-Homem. Da mesma forma que o personagem cujo anúncio da morte assisti na infância e cuja ressurreição acompanhei meses depois nos gibis da editora Abril, o Super-Homem dentro de nós não pode morrer. Pode ser diminuído por uma kryptonita interna mantida por nós mesmos, mas sempre retornará, se deixarmos, como a representação da força de vontade. É interessante que Nietzsche tenha apontado algo parecido com a força de vontade como o poder que faria nascer o Übermensch, que John Byrne tenha estabelecido em seu mito que a capacidade de voar do Superman adviesse de sua força de vontade e que Jung afirmasse que o arquétipo do herói seja a personificação da vontade. Concluo que o Super-Homem, como arauto de nosso inconsciente, traz a seguinte mensagem para nós:

          "Como homem voador de capa vermelha, colante azul e sunga sobre as calças, eu não existo. Contudo, eu sou a força motivadora em cada ser humano e, desse modo, sou bem real. Portanto, superem-se. Saibam que há muitos 'trabalhos para o Super-Homem' na vida. Aprendam com seus Jor-Els, Laras, Jonathans e Marthas Kent. Afastem-se das kryptonitas do caminho, vençam seus próprios Luthors, conquistem suas Lois Lanes e Clark Kents, encontrem suas cabines telefônicas, suas oportunidades, e voem... voem para o alto e avante!"
          
Fim
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